Quando a forma é secundária em relação à função – conceber um suporte de bicicleta à maneira da Thule

O que caracteriza um produto da Thule? É o seu aspecto, ou a funcionalidade? Ou uma combinação dos dois? Henrik Ericsson, Director Global da área de Design, explica o modo como o design é o ponto central do desenvolvimento de produtos.

Tudo se passa em Hillerstorp, a pequena cidade no sul da Suécia onde a Thule nasceu. Design, desenvolvimento de produtos, testes e até fabrico de vários componentes – tudo acontece aqui. Henrik Eriksson trabalha na Thule há vários anos e tem estado envolvido no design de muitos produtos clássicos da Thule.

Henrik, de certa forma, o ambiente de trabalho está diferente, quando comparado com a altura em que começou, não é verdade?

É verdade. Hillerstorp sempre foi a alma e o coração da Thule, mas a expansão ocorrida nos últimos anos tem sido fantástica. É óptimo dispor destas instalações, onde podemos pegar numa ideia e transformá-la num produto final.

Muitas pessoas pensam que os designers fazem a maior parte do trabalho no início de um projecto. Isto é verdade?

Na realidade, essa ideia não podia estar mais longe da verdade! Estamos envolvidos em todas as fases do desenvolvimento de produtos. Penso que muitas pessoas olham para os designers de produto como uma espécie de arquitectos, que elaboram as plantas no início do projecto e depois deixam a construção para outras pessoas. Mas o nosso trabalho na Thule é baseado na equipa, onde vários departamentos cooperam em todas as fases. Enquanto designers, apoiamos qualquer área sempre que podemos, para tornar o produto final o melhor possível.

Os produtos da Thule têm um aspecto "fixe", mas o aspecto não é a única coisa a ter em consideração. Na realidade, por vezes, o design visual é algo secundário?

É verdade. Tomemos o exemplo de um suporte de bicicleta. É uma ferramenta especializada que permite levar as bicicletas no automóvel e necessita de ser segura, versátil, duradoura e fácil de utilizar. Como tal, e em primeiro lugar, o que dita o aspecto é a funcionalidade. É por aí que começamos. O design de produtos é muito mais do que o aspecto visual: é o modo como interagimos com o suporte de bicicleta, como o utilizamos.

O que caracteriza o design comum aos produtos da Thule, que vão desde os carrinhos às caixas bagageiras? Qual é o factor unificador entre estes diferentes produtos?

A questão é se realmente existe um ADN de design na Thule. Eu diria que sim. Fizemos um grande esforço para elaboramos a nossa estrutura de design, criando um conjunto de princípios norteadores. É como uma filosofia para o modo como fazemos as coisas na Thule. De facto, é necessário ter regras que nos ajudem ao longo do caminho. Directrizes. Nada que seja necessário seguir de forma tão rígida que coloque travões à criatividade, mas algo que nos coloque no bom caminho.

Voltando à questão dos suportes de bicicleta, temos consciência de que terão aspectos muito diferentes, dependendo se se trata de um modelo para montagem na bola de reboque ou no tejadilho. A funcionalidade dita a forma. E isso é importante. É necessário que haja adaptação. Quando alguém olha para o produto, deve compreender imediatamente qual é o fim a que este se destina.

Mas ambos os modelos de suportes de bicicleta irão partilhar várias características de design. Falamos de integração – esta é o modo como tentamos encontrar harmonia entre diferentes materiais e melhorar a funcionalidade. Queremos acrescentar tensão para criar dinâmica e energia. Acentuamos extremidades e linhas para estabelecer ligação entre diferentes elementos de design. Além disso, é claro que existem muitos aspectos a ter em consideração quando se trata de sustentabilidade. Por exemplo, não acrescentar nada desnecessário, manter um peso reduzido e escolher materiais duradouros.

A forma como o consumidor final vive esta experiência é... bem, existe um sentimento especial que é visível quando se utiliza algo que está adaptado a uma tarefa específica. É a sensação de este ser o produto certo! É como a diferença entre um fato feito à medida e algo comprado numa loja de roupa em segunda mão. Ambos podem ser usados, mas irá certamente preferir usar o fato que é feito à medida!

A forma como pretendemos que isto funcione para os nossos produtos, é que estes devem parecer pertencer à mesma família, mas também dar a ideia de que existe uma ligação entre eles. Uma qualidade reconfortante, um sentimento intuitivo acerca do modo como são utilizados. A nossa filosofia ajuda-nos a atingir este objectivo.

Conseguem sempre levar a vossa avante, enquanto designers?

Não! Mas essa não é a verdadeira questão, a sério. Estamos todos juntos nesta viagem.